Lembro-me de algum lugar onde dizia que a gente só escreve na dor.
Poisé.
Agora que o chão abriu e eu fiquei entre o buraco sem saber se caía ou se tentava me escorar em algum dos lados, nessa hora, a única coisa que pensei foi em abrir aqui.
Todo fim de qualquer coisa é assim, dolorido dolorido mas é como algum trecho de caio fernando que dizia que as dores vão ficando cada vez mais facilmente superadas, há uma calmaria e uma mansidão nessa dor que assusta. talvez pelo pressentimento ou talvez pela naturalidade de tudo que aconteceu, um acaso ocorrendo inesperadamente e desesperadamente que não tinha como ir muito adiante. racionalmente faz tudo tanto sentido e por isso acaba sendo tão bom "falar", até pra mascarar a dor que não quero sentir, esse sentimento irracional de inferioridade e mea culpa e todo o medo do nunca mais.
na verdade tudo que eu escreveria a partir de agora seria um plágio disso:
"...Mas se eu tivesse ficado, teria sido diferente? Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais — por que ir em frente? Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia — qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê. Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido.
Tinha terminado, então. Porque a gente, alguma coisa dentro da gente, sempre sabe exatamente quando termina.
Mas de tudo isso, me ficaram coisas tão boas. Uma lembrança boa de você, uma vontade de cuidar melhor de mim, de ser melhor para mim e para os outros. De não morrer, de não sufocar, de continuar sentindo encantamento por alguma outra pessoa que o futuro trará, porque sempre traz, e então não repetir nenhum comportamento. Ser novo..."
caio fernando abreu
e a vida continua...
A única coisa que eu posso dizer, é espero que esse sofrimento passe logo Luiz.
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